O PROBLEMA DA MEDIUNIDADE
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O
dom da mediunidade não é especial e exclusivo dos espíritas, razão pela qual
vemos, freqüentemente, adeptos de outras religiões e indivíduos sem religião
alguma demonstrarem a posse de faculdades mediúnicas, embora não compreendam
nem interpretem corretamente as ocorrências de caráter mediúnico verificadas em
seu ambiente. Ignorando a natureza de sua sensibilidade nervosa, emprestam-lhe
açodadamente origem patológica, quando deverimn examiná-las com maior
serenidade, a fim de situá-las na classificação adequada e correta. Conhecemos
pessoas católicas, inegavelmente portadoras de mediunidade, que acham graça e
sorriem com descrença quando se lhes diz que são médiuns. Entendem que isso é
impossível, por incompatível com o credo a que estão ligadas. Em virtude desse
grave erro de apreciação, algumas se vêem, em determinadas ocasiões, envolvidas
por perturbações caracteristicamente psíquicas, oriundas da mediunidade retida,
contida por preconceitos, mas que poderá de um momento para outro expandir-se,
até mesmo com conseqüências dignas de cuidado.
A
"retenção da mediunidade" constitui ameaça à segurança do médium,
antena que ele é, suscetível de atrair e captar ondas de força psíquica,
impedindo, por falta de desenvolvimento, que essas ondas sejam distribuídas naturalmente,
numa como que operação de descarga fluídica, necessária ao equilíbrio psíquico
do médium. A acumulação de força psíquica exige o trabalho de dispersão
metódica capaz de não perturbar esse equilíbrio, o que seria problemático no
caso de se verificar uma expansão descontrolada da energia acumulada. Eis por
que tanto é indispensável que o médium se desenvolva e exerça metodicamente seu
mister, como que evite trabalhar em excesso, para não prejudicar a saúde e a
mediunidade.
É
essencial que haja sempre harmonia, isto é, equilíbrio. A "retenção da
mediunidade" provoca uma sobrecarga no sistema nervoso, responsável por
certas atitudes irrefreadas. Os recalques e complexos, tão citados, por
figurarem na nomenclatura de um método de psicologia que vai passando de moda,
podem também ter como causa a "retenção da mediunidade" . Para se
imaginar a pressão suportada pelo sistema nervoso, em virtude da força psíquica
retida e desaproveitada, imaginemos o que sucede a uma represa, cujas águas forçam
as margens à medida que vão crescendo, ameaçando romper-lhe as paredes e a
comporta que impede sua liberação.
Quando
isto se verifica, é de se temer a violência da irrupção das águas, capaz de
destruir tudo quanto se lhe antepuser. Certos casos de desequilíbrio mental
decorrem da falta de desenvolvimento mediúnico, da ausência de emprego metódico
da força psíquica acumulada pelo médium. Em vez de o Espiritismo ser, como seus
gratuitos inimigos soem dizer, causa de loucura, a verdade é que ele evita a
loucura, desde que o médium ohserve atentamente o regime estabelecido em
"O Livro dos Médiuns", de AlIan Kardec, desenvolvendo dia-a-dia sua
capacidade mediúnica e aprendendo, assim, a controlar e aplicar utilmente a
força psíquica que recebe e acumula.
Temos
insistentemente, podemos dizer mesmo - impertinentemente - chamado a atenção de
pessoas que possuem mediunidade em estado latente e de médiuns incipientes,
para a conveniência de se exercitarem com método, sob as vistas de um
orientador experimentado e criterioso. Quase sempre o médium é refratário a
ponderações nesse sentido e avesso à disciplina necessária à consecução do
êxito. Outros, ainda não pertencentes à comunidade espírita, supõem que é o
proselitismo que nos faz admitir a existência de sua mediunidade ou que se
pretende fazê-lo abandonar a religião em que se encontra para adotar a religião
espírita. Puro erro. Se o indivíduo desconhece ser portador de mediunidade e se
mostra indiferente, por preguiça mental, ignorância ou aversão ao Espiritismo,
a situação se agrava, pela dificuldade de se lhe oferecer defesa e não nos
surpreendemos sempre que vemos alguém assediado por agitações nervosas e
distúrbios que se definem como procedentes da "retenção da
mediunidade".
Quem
estuda a Doutrina Espírita sabe a que perigos está exposto o médium negligente
ou ignorante dos meios de defesa contra a ação de Espíritos malévolos. Não são
poucas as pessoas que, embora reconhecendo ser médiuns, fogem da tarefa que os
aguarda, porque a consideram sacrificanle. Entretanto, quanta beleza há no
trabalho mediúnico, principalmente no campo da caridade! Há os que preferem os
prazeres mundanos, as frivolidades, ao esforço que beneficia sua personalidade
espiritual. Felizmente, outros, conscientemente voltados para os deveres, consideram
sagradas as horas do exercício de sua mediunidade. Chova ou não, comparecem
pontualmente às sessões e experimentam sincero contentamento em concorrer para
o bem de outrem. Estes são os médiuns verdadeiramente integrados na Doutrina
Espírita. Aceitam e executam suas obrigações, absolutamente convencidos da
natureza elevada de seu trabalho, porque a mediunidade quase sempre pode ser
interpretada como incumbência aceita antes da reencarnação, e que deve, por
conseguinte, ser integralmenle satisfeita.
O
bom médium mantém o equilíbrio a que já nos referimos. Não se deixa fanatizar,
porque encontra no estudo da Doutrina Espírita a orientação que precisa seguir.
Afirmar-se que alguém é ou não médium, semelha arrojada assertiva. Como podemos
negar que tal ou qual indivíduo não seja médium, se a mediunidade se reveste de
inúmeras características? O fato de não se verificar o transe ou de não serem
percebidas certas vibrações não quer dizer que não haja mediunidade. "Essa
faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio
exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns
rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns"
("O Livro dos Médiuns" - Cap. XIV). A mediunidade não é um prêmio
concedido ao Espírito encarnado, mas uma oportunidade oferecida para que ele
alcance mais depressa a evolução colimada, através de tarefas que demandam boa
vontade, perseverança, devotamento, renúncia e conduta fraterna.
Na
maioria dos casos, o Espírito reencarna porque ainda tem débitos a amortizar ou
resgatar. Nestas condições, a mediunidade é um compromisso de trabalho que,
devidamente cumprido, permitirá a conquista de melhores níveis espirituais.
Cada boa ação pode ser um "bonus-crédito", como aqueles de que nos
falou André Luiz. Fácil se torna compreender a importância de uma conduta moral
elevada do médium. Uma vida terrena sóbria, tanto quanto baseada nos
ensinamentos evangélicos, oferece encantos incomparáveis. Supor-se a
desnecessidade do amparo evangélico é lamentável equívoco. O médium pode
trabalhar sem orientação evangélica, mas não encontrará jamais o amparo e a
segurança que têm aqueles que se colocam sob as normas do Bem, tão hem expostas
por Jesus.
Fora de dúvida, o exercício da mediunidade e o grau deste podem prescindir também do valor moral do médium, mas a verdade incontestável é que o médium de vida moral irregular e inferior jamais poderá equiparar-se ao médium de vida moral limpa e fiel aos princípios evangélicos. Um poderá encontrar escolhos intransponíveis e ver malogrados os seus esforços, enquanto que o outro se sentirá fortemente amparado pelas forças superiores do Invisível.
Fora de dúvida, o exercício da mediunidade e o grau deste podem prescindir também do valor moral do médium, mas a verdade incontestável é que o médium de vida moral irregular e inferior jamais poderá equiparar-se ao médium de vida moral limpa e fiel aos princípios evangélicos. Um poderá encontrar escolhos intransponíveis e ver malogrados os seus esforços, enquanto que o outro se sentirá fortemente amparado pelas forças superiores do Invisível.
Ninguém
é médium por acaso, ninguém exerce a mediunidade sem responsabilidade. O estudo
da Doutrina Espírita, hoje, amanhã e sempre, porque há sempre o que aprender,
por mais que leiamos, é a bússola do médium. A mediunidade é um ponto de
referência no Além e, consoante a Lei das Afinidades, poderá o médium atrair
forças benéficas e, portanto, positivas, ou forças maléficas e,
conseqüentemente, negativas. O bom exercício das tarefas mediúnicas oferece
compensações morais e espirituais indescritíveis, o que não sucede quando as
tarefas são abandonadas ou negligenciadas, mal cumpridas ou realizadas com
propósitos inferiores.
Indalício
Mendes
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